Estamos juntos , mas ainda não misturados

Posted on 13/08/2013

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(por: Caralâmpio, Mais Preto e Renato Doria)

Quarta-feira 24 de julho de 2013, aconteceu no SINDIPETRO-RJ, na capital fluminense, uma atividade de enorme valor organizativo. As/os compas das favelas deram uma verdadeira aula para os da assistência. Expuseram de forma analítica os problemas das comunidades da Babilônia, Maré, Macacos, Tabajaras, Complexo da Penha e Anil, sem deixar de associar as respectivas realidades ao contexto atual. Belíssimas exposições, memoráveis mesmo.

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No segundo bloco, aquele reservado ao debate, um compa da “Assembleia do Largo” discorreu magistralmente sobre essa experiência que carrega as marcas históricas da horizontalidade, da democracia direta, da autonomia e do federalismo. Um relato tanto comovente quanto animador, talvez um dos grandes ganhos do “asfalto” diante de tantas iniciativas acontecendo a um só tempo.

Ficamos convencidos – até então era apenas uma suspeita – de que as Assembleias Populares são sim um caminho para organizar, aglutinar e orientar o que de melhor apareceu em toda essa convulsão que experimentamos nos últimos dois meses. Algo que, a despeito de não ser novo para a tradição libertária, é suficientemente generoso e funcional para servir de veículo coletivo para as novas ideias e experiências. Um meio simultaneamente de reflexão e deliberação, avesso ao aparelhamento e à manipulação partidária, eficaz na medida da participação de todos dentro de uma lógica autogestionária.

Os argumentos das/dos compas da “Assembleia do Largo” são de tal ordem cristalinos e transparentes que é quase impossível não entender seu objetivo que é, segundo entendemos, de inquestionável propositividade.

A proposta concreta, no entanto, precisa ainda de uma discussão mais ampla e geral. Uma vez que a ideia é unir os movimentos/bandeiras no sentido da ação mais consequente e organizada; ambição, aliás, da qual compartilhamos. Formar um organismo suficientemente forte que não se dissolva no contato com a realidade (N. Makhno). Algo com longevidade suficiente para operar a tão sonhada transformação.
Todavia existe um dado da realidade que não pode ser desprezado, algo que aprendemos muito depressa na militância, me refiro ao encontro de dois blocos sociais que, se por uma parte, se erguem em um mesmo momento histórico, contra o mesmo ator repressivo (Estado), por outra, conformam-se de experiências de classe e cotidianas bastante distintas. Singularidades que, para não entrar em considerações por demais subjetivas, devem ser preservadas e entendidas reciprocamente. Formas de organização que são preciosas e criativas e, por isso mesmo, devem ser sublinhadas para o mútuo compartilhamento.

Sendo assim, achamos que de fato é hora do entendimento, de dar início a um projeto comum, consequente, meditado e pactuado entre os que querem de fato outra sociedade. Nesse sentido estamos juntos. É possível a união ainda nesse sistema em que vivemos, desde que haja vontade e organização em torno de bandeiras explicitamente aceitas e incorporadas ao projeto coletivo. Mas, por outra parte, temos que reconhecer que há uma incontornável diferença, ditada principalmente pelas assimetrias das necessidades em uma sociedade de classes, uma que invariavelmente nos separa em etiquetas sociais, uma que a retórica mais inflamada não consegue esconder. Há que se reconhecer que entre os blocos em protesto existem claras diferenças, principalmente de privilégios. São distinções tais que nos impedem de ficar misturados. Juntos, mas não misturados… Achamos que esse é o maior desafio e que, na nossa opinião, deve pautar as nossas reflexões. Reconhecer os limites de uma relação não é sancioná-la previamente, estabelecer contornos rígidos, mas entender que um meio não é um fim, e que o nosso fim é a sociedade sem classes, o socialismo, realidade na qual estaremos, aí sim, “juntos e misturados”.

(Caralâmpio, Mais Preto e Renato Doria são militantes da OP)